Entre os dias 21 e 23 de Junho, o Funchal volta a acolher o “Madeira Lupus Clinic”, com alguns dos mais reconhecidos especialistas nacionais e internacionais desta área clínica. A Associação de Doentes com Lúpus esteve à conversa com o Dr. Jorge Martins, especialista no Hospital dos Marmeleiros, no Funchal, e presidente do evento. Leia tudo aqui.
Associação de Doentes com Lúpus (ADL): Qual a importância de realizar um evento dedicado ao Lúpus?
Dr. Jorge Martins (JM): É, verdadeiramente, fundamental juntar todos os que se dedicam a sua actividade profissional à investigação da doença, num “fórum ” de sábios, de modo a, entre si, poderem discutir, livremente, sem os constrangimentos inerentes aos congressos, as dúvidas que os atormentam, seja no diagnóstico, “follow-up” ou tratamento do Lúpus Eritematoso Sistémico.
ADL: Dado que o evento tem uma dimensão internacional, a vinda de especialistas estrangeiros acrescenta valor ao evento em que medida?
JM: Parece-me óbvio que, para cumprir com o objectivo do Madeira Lupus Clinic, seja imprescindível a presença dos que, a nível mundial, mais investigam e publicam trabalhos sobre a doença.
ADL: Que principal mensagem pretende ver passada no evento?
JM: A de que é necessária uma “expertise” muito própria, somente ao alcance dos que, tendo uma formação médica holística, se dedicam ao diagnóstico da doença e ao tratamento dos doentes com LES e que os médicos das Especialidades da área Médica, particularmente os de Medicina Geral e Familiar, devem estar aptos a identificar os casos suspeitos de modo a poderem referenciá-los precocemente.
ADL: Um dos grandes “problemas” do Lúpus é o diagnóstico diferenciado. Qual a grande vantagem de um diagnóstico precoce?
JM: Precisamente. O diagnóstico precoce, que inclui, diria, impõe, o ser feito sem que sejam cumpridos os Quatro Critérios de Classificação, é o nosso objectivo primordial, de modo a evitarmos a ocorrência de envolvimento, com sequelas irreversíveis, dos órgãos alvo mais deletérios para a saúde e bem-estar dos doentes, nomeadamente os rins, o coração ou o cérebro.
ADL: Considera que os médicos de Medicina Familiar estão preparados para um primeiro diagnóstico e posterior encaminhamento para o especialista?
JM: Esse é, como já referi, um dos objectivos do Madeira Lupus Clinic e, por isso, organizamos, sempre, um curso pré- Conferência também a eles dirigido, onde se abordam, de forma sistematizada, por “especialistas” desta área ou que com eles estudam os doentes com Lúpus, todos os sinais e sintomas que permitam suspeita e, assim, o rápido encaminhamento dos doentes.
ADL: A gravidez é um dos temas do encontro. Pergunto-lhe que evolução tem havido nesta matéria, quando há uns anos atrás muitas mulheres tinham receio em engravidar e hoje podem faze-lo com (bastante) segurança?
JM: Uma das grandes vitórias dos que, persistentemente, se dedicam ao diagnóstico, seguimento e tratamento das doentes com Lúpus. Enfim, temos uma enorme prole de filhos de doentes com Lúpus o que era absolutamente impensável há 40 anos.
ADL: Sendo o Lúpus uma doença complexa que (pode) envolve várias especialidades, considera que em Portugal os cuidados (diagnóstico e tratamento) estão ao nível do resto da Europa?
JM: As três mais prestigiadas reuniões científicas sobre temas de autoimunidade e, particularmente, sobre Lúpus Eritematoso Sistémico que se realizam na Europa, que não Congressos, acontecem, regularmente, nem Portugal. Os médicos portugueses que se dedicam ao estudo da doença, são reconhecidos na comunidade internacional, sempre convidados para os eventos que se realizam por esse mundo fora, quando não, protagonistas deles. Podemos assim, reivindicar um estatuto que nos permite questionar os que, provavelmente por desconhecimento mas, sem qualquer réstia de dúvida, condicionados pelos que tentam dar um passo maior que a perna, sendo decisores, e inibem de nos dar as condições que reclamamos para melhor tratar os nossos doentes.
ADL: A cura é o que falta ao Lúpus, ou haverá ainda lugar a muitos desenvolvimentos? Quais?
JM: “That´s the question” (tradução: Essa é a questão).Bem sabemos dos vários mecanismos imunofisiopatológicos implicados na expressão fenotípica do Lúpus Eritematoso Sistémico. Também estamos alertados para uma concomitante imunodeficiência a ele associado que questiona, sobremaneira, a decisão terapêutica. “Helas!!” A razão última da realização do Madeira Lupus Clinic.
Consulte aqui o programa do evento.